Mário Quintana

FELICIDADE REALISTA...



A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote

louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser

magérrimos, sarados, irresistíveis.

Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema:

queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor.. não basta termos alguém com quem podemos

conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar

pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente

apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes

inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos

sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o

que dá ver tanta televisão.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.

Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você

pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um

parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando

se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção.

Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.

Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se

sentir seguro, mas não aprisionado.

E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda,

buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e

um pouco de criatividade.

Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.

Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato,

amar sem almejar o eterno.

Olhe para o relógio: hora de acordar.

É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,

instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde

só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas

desta tal competitividade.

Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as

regras, demita-se.

Invente seu próprio jogo.

Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a

felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir

embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não

sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.

Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...



CERTEZAS

Não quero alguém que morra de amor por mim…

Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,

quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…

Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível…

E que esse momento será inesquecível..

Só quero que meu sentimento seja valorizado.

Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre…

E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…

e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos,

que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras,

alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho…

Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons

sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente

importa, que é meu sentimento… e não brinque com ele.

E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca

cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter

forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…

Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.

Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia,

e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,

talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…

Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.

Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder

dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim,

sem ter de me preocupar com terceiros…

Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…

Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,

que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim…

e que valeu a pena.

Mario Quintana

Natural de Alegrete, RS. É o poeta das coisas simples. Despreocupado em relação à crítica, faz poesia porque "sente necessidade", segundo suas próprias palavras. Em sua poesia há um constante travo de pessimismo e muito de ternura por um mundo que, parece, lhe é adverso.

Sobre o livro Apontamentos de História Sobrenatural, diz Quintana: Eis o meu primeiro livro cujos poemas saem mais ou menos na sua ordem cronológica. Porque antes se reuniam numa ordem lógica: sonetos com seus companheiros de lirismo um tanto boêmio, canções com suas irmãs de dança, quartetos filosofando uns com os outros, diante da seriedade que se presume existir num simpósio, poemas em prosa proseando sobre isto ou aquilo, poemas oníricos com suas perigosas magias de aprendizes de feiticeiros.